A Malhadas e Outras Feiticeiras

Dizem que a bruxaria entrou em Mundão através de uma professora primária que se dizia ser feiticeira. Chamavam-lhe Malhada. Diziam que influenciava as alunas mais adultas, levando-as para os mistérios do oculto, do sobrenatural, das coisas do demónio e mostrando-lhes a magia do bruxedo.

Depois de ensinadas, as bruxas, nas noites de São João, soltavam os cabelos e molhavam-nos no orvalho do linho. Depois escorriam e espremiam os cabelos em púcaras de barro preto. Era essa água do orvalho que servia de perfume para usar nas noites em que sairiam para os bailes. Depois dos homens adormecerem, as mulheres embruxadas, com vestidos brancos, “voavam” para uma eira onde começava a sedução, o sigiloso baile do sobrenatural, e dançavam, dançavam dominadas pelas forças ocultas. Essa fantasia acabava depois da uma e tal da manhã quando retornavam a casa, como se nada tivesse acontecido.

Após a morte da professora, da mestra feiticeira, na casa da Escola Primária que habitou, dizem que ela aparecia, ao entardecer, no quarto onde dormia, pois via-se na sua pequena janela um clarão que parecia chamas de fogo. E se alguém por ali passasse a altas horas da noite, já apavorado, dava uma correria porque ouvia um ruído de uma roda que girava, girava… e ainda hoje pode ouvir-se aí o bruxedo que se espalhou em Mundão pela professora Feiticeira.

Houve quem tenha visto este estranho ritual por outras terras. Um senhor caminhava sozinho por horas tardias, já a meia noite tinha ficado para trás. Vinha das terras ou tinha ido abrir as águas dos caminhos durante a noite. Tão sozinho que até a luz da lua era fraca companhia e no lugar de árvores, pedras e pelouros, o que se via eram criaturas feitas de sombra. Já longe no caminho o homem viu um grupo de mulheres que dançavam ao som dos grilos e do cantar das aves noturnas. Mas quem seriam? O homem, a quem um bailarico também já fazia falta, não hesitou:

– Eiii! Isso é para todos ou é só para alguns?

Diz quem conta que não acabou de falar a última palavra sem que antes levasse uma valente chapada na cara, o que o deixou de tal forma atordoado que ficou meio adormecido, meio acordado. E durante toda a noite, foi levado por aquelas mulheres pelos poços, pelos lameiros, atravessou pontes, furou arames farpados, cheirou a terra dos cemitérios e só de madrugada é que o deixaram no cerrado todo coberto de lodo e com os pés descalços. Antes de o deixarem, as mulheres avisaram-no:

– Sobre o que tu viste e ouviste, se tu contas quem nós somos, és um homem morto!

E toda a vida este senhor nunca denunciou estas mulheres feiticeiras!

– Só as nomeio no dia da minha morte! – Dizia ele.

Escrito por: Sofia Moura e Dennis Xavier
A partir da recolha de histórias na Freguesia de Mundão e do Campo, concelho de Viseu.
Informantes: Eufémia Lopes, Glória e José Carlos Martins – Recolhido em julho de 2021
Ilustração: Mariana Vicente