A Terra da Cabra
Moselos é a Terra da Cabra! Porquê? O Ti Eduardo Pereira tinha por lá uma uma taberna. E ele tinha muito vinho, e do bom, que cativava as pessoas da cidade a irem até lá. Para além disso tinha filhas novas e solteiras, uma série delas. “Uma era a mulher do Zé Oja ou Olha. Outra era a Fernanda que esteve em Viseu. Outra era a Olinda.”
Antigamente, onde houvesse muita rapariga num estabelecimento, havia sempre mais clientes.
Mas de onde vem o nome cabra? É que andava aí um animal de noite, uma ave noturna, que cantava… E era tão esquisito o cantar daquela ave… que fazia lembrar o som de uma cabra.
Mas havia quem dizia que não era uma ave, mas sim uma cabra. Uma senhora contava, a Tia Alexandrina, que era irmã da Tia Silvana, que esse homem tinha uma taberna fora do povo e pôs lá a cabra de propósito para chamar clientes.
Mas há quem diga que não havia cabra nenhuma! Isso da taberna é verdade, porque fazia-se muito negócio de Aveiro para cá. E os feirantes que vinham de Aveiro, a cavalo, paravam por ali. E bebiam à bruta, até ficarem bebedinhos. E o vinho tinha de sair por algum lado. Eles faziam “eehhhhh eeehhhhehh” (som de cabra). Como uma cabra a berrar.
E depois nos dias seguintes diziam uns para os outros:
– Ei! vamos a Moselos apanhar uma cabra?
E daí nasceu o nome de Cabra, a Cabra era a bebedeira.
Mas há ainda quem discorde de tudo isso e apresente outra versão. Afinal a terra das cabras não pertence a homens desgovernados pela droga do vinho, pertence sim às mulheres, às raparigas. Não me lembro quando é que cabra passou a ser um insulto, mas antes, estas raparigas que andavam com o rebanho das cabras no pinhal, eram como elas. Eram cabras. E era impressionante a sua agilidade e força animal. Saltavam as pedras e subiam aos montes, andavam em cima das poldras, desciam pelas encostas íngremes, sempre a acompanhar e a guardar as cabras. As raparigas andavam com as cabras, também eram cabras. Ou as cabras eram raparigas. Sabe-se lá. E assim ficou o nome da terra de Moselos – a terra da Cabra.
Escrito por: Sofia Moura
A partir da recolha de histórias na Freguesia do Campo, concelho de Viseu.
Informantes: Jorge Lopes, Glória, José Lima e Jorge Campos – Recolhido em junho de 2021
Ilustração: Mariana Vicente